A vulnerabilidade do Cristianismo
(por Daniel Nunes - www.poetaseprofetas.com.br)
Vitor cursava seu primeiro período na universidade quando se deparou com uma daquelas aulas de filosofia que deixa qualquer um de cabelo em pé. O tema era perfeição. Seu professor queria provar que Deus não é perfeito, defendendo a tese de que perfeito é todo aquele que é auto-suficiente. Se Deus é perfeito, por que então sentiu a necessidade de criar o homem?
Acredito que estamos em tempos em que precisamos entender a razão da nossa fé, o porquê de fato escolhemos ser cristãos.
À luz da bíblia, perfeição é relacionamento. O que faz uma árvore se tornar perfeita? A árvore se torna perfeita porque ela se relaciona com a terra, com a água e com o sol, isso faz dela uma perfeita árvore. Por que Deus é perfeito? Porque Ele é relacional, base do cristianismo, o homem sendo vulnerável a Deus, a si mesmo e ao próximo.
Mas o que é vulnerabilidade? Segundo o dicionário Aurélio vulnerabilidade é estar pronto para ser atacado, ser alguém sem defesa, ser fraco.
Jesus nos ensinou isto a todo tempo. Ele não viveu nenhum segundo de sua vida na Terra sem a vulnerabilidade do relacionamento. Paulo relata isto em Filipenses 2. Jesus, sendo Deus, decidiu ser vulnerável ao homem para redimir o relacionamento em todas as esferas da vida humana.
Ser cristão é ser vulnerável, sem ter medo de transparecer fraquezas, mas fazendo do relacionamento um meio total de vida.
O evangelho pós–moderno tem ensinado exatamente o contrário, isto tem gerado destruição em nossa sociedade e em nossas igrejas. Afinal somos fortes demais, bons demais. Perdemos o valor relacionamento e nos tornamos um fim em nós mesmos.
Quem dera nossos líderes fossem fracos, talvez assim não teríamos igreja dividida. Quem dera nossos governantes fossem vulneráveis, talvez assim não teríamos um sistema tão corrupto. Creio que nisto está o segredo da redenção da sociedade e do homem, nisto está o avivamento.
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Este texto traduz muito do que eu penso. Daniel foi simples e direto contra este evangelho de "super-homens" que tem sido pregado por aí, e do qual me recuso a fazer parte. Criamos uma teoria anti-bíblica de que somos todos fortes, não podemos errar nunca, somos perfeitos em absolutamente tudo. Ai de quem cair ou errar.
Pra mim, este tipo de 'evangelho' exclui Cristo do nosso dia-a-dia. Se somos fortes, pra que precisamos dEle?
"E aconteceu que, estando sentado à mesa em casa deste, também estavam sentados à mesa com Jesus e seus discípulos muitos publicanos e pecadores; porque eram muitos, e o tinham seguido. E os escribas e fariseus, vendo-o comer com os publicanos e pecadores, disseram aos seus discípulos: Por que come e bebe ele com os publicanos e pecadores? E Jesus, tendo ouvido isto, disse-lhes: Os sãos não necessitam de médico, mas, sim, os que estão doentes; eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores ao arrependimento." (Mc 2:15-17)
Hoje, ainda não entendemos para quem Jesus veio. Continuamos repetindo o mesmo discurso dos escribas e dos fariseus, nos posando de fortes e justos. Entendam, não estou dizendo que somos 'fracotes' - somos fortes em Cristo, Ele é a nossa fortaleza e nEle podemos suportar todas as coisas e avançar. Sim, somos fortes, mas em Cristo! E Ele mesmo nos ensina a sermos humildes, dependentes dEle. Para que necessito de Jesus se eu não peco (logo, não preciso de perdão)? Para que preciso de um salvador se eu não tenho falhas? Para que preciso de cura se não tenho mágoas, dores ou feridas? Para que preciso de um amigo como Cristo, se eu não tenho nenhuma fraqueza a desabafar?
É claro que, assim como o escritor de Hebreus nos ensina, buscamos a santificação, qurendo ser cada dia mais parecidos com o Senhor (Hb 12:14). Mas só seremos santos se nos relacionarmos com Ele, e para isso precisamos assumir quem somos. É diante dEle que expomos nossas fraquezas, nossa pequenez, nossa necessidade de mais e mais do cárater e da vida dEle em nós. Embora o chamemos de 'Pai', parece que esta intimidade fica só nas palavras.
A Bíblia também nos ensina a contar com nosso irmãos (afinal, somos família, somos corpo - se um sofre, todos sofrem). Tiago nos ensina a confessar nossas culpas uns aos outros, não para a fofoca, mas para oramos uns pelos outros e sermos suporte do nosso irmão (Tg 5:6). Não estou dizendo que nossa vida tem que ser um livro aberto, que todos devem saber de tudo. Muita calma nesta hora. O que Tiago nos ensina é que não podemos ter medo de nos expor, de nos relacionar com quem confiamos e assumir: "preciso de ajuda". Isto não mata ninguém!
Não nasci com a capa da Mulher Maravilha e não pretendo adquiri-la. Tenho meus medos, dúvidas e fraquezas, momentos de incerteza e indecisão, períodos de querer chutar o balde, como qualquer pessoa normal. Mas aprendi que não preciso - e nem quero - usar máscaras, nem diante de Deus, nem diante dos meus irmãos. Deus é meu Pai, e me ama bem assim do jeito que sou. Ele quer me mudar, me fazer mais parecida com Ele, mas isto só pode acontecer se eu estiver livre de qualquer 'pose', se eu reconhecer que preciso do agir dEle em minha vida! Como bem disse o Daniel, isto é avivamento!